sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Mitos e fatos sobre crianças autistas

Arquivo pessoal
Após o diagnóstico de autismo do filho Theo, Andréa criou um blog para ajudar a acabar com os mitos em torno do transtorno
“Nossa, mas ele não parece autista!”. Dos vários enganos que Andréa Werner ouve em comentários sobre seu filho Theo, de cinco anos, este é um dos mais frequentes. “Na cabeça de algumas pessoas, o autismo traz características físicas que o tornam visualmente identificável, o que está longe de ser verdade. O Theo tem autismo e é um menino lindo, de desenvolvimento físico igual ao de outras crianças da idade dele”, afirma a blogueira, responsável pelo “Lagarta Vira Pupa”.
A diferença aparece nas ações do garoto, e daí surgem outros equívocos por parte de quem não tem proximidade com a família. “Quando ele não consegue expressar o que quer ou o que o incomoda, faz barulhos que para os outros podem parecer um ataque descontrolado de birra. Chegam a falar que ele é muito mal-educado, mas emitir esses sons é a reação natural do autista diante da frustração de não conseguir se comunicar”, explica.
Foi para desabafar sobre tais acontecimentos do dia a dia com o filho que Andréa criou o blog. Ela achava que só a família e os amigos leriam, mas logo outras mães de autistas começaram a conhecer e compartilhar seus posts pela internet. Hoje, ela usa o espaço para dar uma luz a quem vive uma realidade parecida com a sua e também para ajudar a acabar com os mitos em torno desse transtorno do neurodesenvolvimento.
Fato ou mito?
Por falta de informação ou por confiar cegamente nos estereótipos apresentados em produções para o cinema e para a TV, muitas pessoas têm ideias equivocadas sobre a realidade do autismo e do autista. Selecionamos as 11 mais comuns para esclarecer o que é fato e o que é mito no universo desse transtorno.
É fácil diagnosticar o autismo, porque os sintomas são iguais em todas as crianças.
Mito. “O autismo pode se manifestar por meio de diversos sintomas combinados de maneiras únicas e complexas. O diagnóstico é artesanal, não existe um exame clínico que o determine”, esclarece o neuropediatra Rudimar Riesgo, professor do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e chefe da neuropediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A neuropediatra Mônica Scattolin complementa: “Baseia-se no histórico do paciente, na observação e avaliação do comportamento. Existem instrumentos que auxiliam o diagnóstico, como a escala CARS (sigla em inglês para Escala de Avaliação de Autismo Infantil) e a entrevista ADI-R (sigla em inglês para Diagnóstico de Autismo Validado por Entrevista)”.
A manifestação de algumas características pode chamar a atenção de pais ou professores para a possibilidade de a criança ser autista, mas o simples fato de ter uma ou duas (ou mesmo três) delas não significa que o autismo esteja de fato presente. Isso entendido, são elas:
- Atraso ou ausência da fala
- Isolamento
- Prejuízo no contato ocular (não olhar nos olhos)
- Baixa tolerância a sons altos
- Baixa tolerância a toques
- Não responder ao ser chamado pelo nome
- Não apontar o que quer
- Dificuldade na atenção compartilhada (chamar a atenção do outro para algo interessante)
- Movimentos estereotipados e não funcionais das mãos e dos braços
- Inabilidade para entrar em brincadeiras de faz de conta
- Fascínio por brinquedos que rodam ou por rodinhas dos brinquedos
- Dificuldades exageradas com as mudanças de rotina



O autismo sempre se manifesta nos primeiros meses de vida da criança.
Mito. As características de autismo costumam surgir a partir do sexto mês do bebê. Mas há casos mais complexos, como o autismo regressivo – que se manifesta tardiamente, depois que a criança faz um ano de idade. Foi assim com Theo, filho de Andréa. “Nos primeiros meses de vida, ele sorria, balbuciava palavras, compartilhava o que via e sentia. Nada indicava que seria autista. Daí ele começou a ficar diferente, parou de olhar quando era chamado, pegou mania com rodinhas de carrinhos de brinquedo, foi perdendo as habilidades sociais”, lembra a mãe.
Portanto, se os pais suspeitarem que o filho é autista, qualquer que seja a fase da infância em que ele esteja, devem procurar médicos especializados para um diagnóstico seguro e, se necessário, um tratamento multidisciplinar (com neuropediatra, psiquiatra, fonoaudiólogo e educador). “Quanto mais rápido o diagnóstico, melhor a evolução, pois se trabalha o potencial da criança, criando melhores condições de sociabilização”, assegura Mônica.
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Fascínio por brinquedos que rodam ou por rodinhas dos brinquedos é uma das características observadas em crianças autistas
Todas as crianças autistas têm o transtorno na mesma intensidade.
Mito. Nunca é demais ressaltar: cada caso é um caso. “Como em qualquer outra característica humana, existem diversos níveis de autismo. Há pessoas mais magras e mais gordas, mais altas e mais baixas, e ocorrências de autismo mais leves e mais graves”, diz Riesgo.
As causas do autismo ainda não são conhecidas pela ciência.
Fato. Estudos indicam que ele possa ser o resultado da combinação de fatores genéticos, ocorrências durante a gestação e fatores externos. Algumas pesquisas recentes também apontam para alterações cerebrais.
É impossível se comunicar com uma criança autista.
Mito. Embora tenham, como Riesgo define, “baixa inteligência social”, os autistas encontram meios de se comunicar com as pessoas mais próximas e assimilam atalhos criados pelos pais ou terapeutas para facilitar a troca de informações. Na casa de Andréa, por exemplo, Theo mostra para os pais o que quer comer ou beber pegando cartões com desenhos de alimentos e bebidas que ficam na porta da geladeira. “Ele não fala, mas isso não impede a comunicação. E ele entende tudo que falamos para ele“, relata a blogueira.
Não se deve encostar em uma criança autista, pois ela terá um ataque histérico.
Um pouco fato, um pouco mito. Se para crianças sem autismo já pode ser difícil ir para o colo de parentes e amigos dos pais, para as autistas isso é quase missão impossível. “De forma geral, elas não toleram o toque. Sentem-se desconfortáveis, ameaçadas, porque têm dificuldade neurológica para interpretar manifestações de sentimentos e filtrar os estímulos externos, e podem demonstrar isso gritando”, explica Riesgo. Isso não significa, de maneira alguma, que elas devam ser “poupadas” do convívio social, como diz Mônica: “As pessoas podem e devem interagir com crianças com autismo. O contato visual deve ser estimulado. Como em toda relação, é preciso cuidado para não ser intrusivo. Perceber o que incomoda o outro e respeitar esses limites”.
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Quando a criança não consegue falar, cartões com desenhos de comidas e objetos facilitam a comunicação
Crianças autistas são mais “birrentas” que a média.
Mito. Há que se entender que as “birras” dos autistas não representam falta de educação ou de controle por parte dos pais. Os estouros em gritos são a expressão da frustração dos autistas por não conseguirem colocar em palavras o que querem, o que sentem. O desabafo exagerado também pode ser um descontrole causado por uma sobrecarga sensorial, por causa da baixa tolerância a sons altos. “Esse mecanismo é tão forte que a sensação é de que ninguém está no controle. A criança atinge um nível de desorganização que, mesmo que saia daquele ambiente, terá dificuldades para ser acalmada”, afirma Mônica.
Crianças autistas gostam de ficar sozinhas, fazendo movimentos repetitivos.
Fato. Uma das características mais recorrentes entre os autistas é a tendência ao isolamento. Quando sozinhos, eles podem ficar minutos, às vezes horas, brincando da mesma maneira com um carrinho, uma boneca ou outro objeto. Também mexem mãos e braços de maneira exagerada e sem sentido.

As escolas não podem colocar crianças autistas em salas regulares.
Mito. Isolar as crianças autistas em salas “especiais” não é bom, e inclusão é a recomendação corrente. Riesgo aconselha: “É interessante que elas estejam em contato com colegas da mesma idade o mais cedo possível. Como qualquer criança, as que têm autismo aprendem; umas mais, outras menos, mas elas retêm as informações”.
Crianças autistas precisam de apoio pedagógico durante a idade escolar.
Fato. As metodologias de auxílio extracurricular oferecidas pelas escolas preparadas para incluir os autistas, segundo Mônica, “servem para potencializar as habilidades e minimizar as dificuldades. Seu uso é definido de acordo com o funcionamento que a criança apresenta. É importante que a estratégia educacional leve em consideração a singularidade de cada aluno”.
Os pais de crianças autistas também precisam de apoio.
Fato. Esse apoio pode vir da família, de amigos, de desconhecidos em páginas na internet que passem pela mesma situação, de livros sobre o assunto, de terapia. O importante é os pais estarem abertos para encarar a situação. Quando recebeu o diagnóstico de autismo de Theo, Andréa sentiu “que o chão tinha sido tirado dos pés”. Ela justifica: “Você tem um filho, planeja a vida dele, e nesses planos não estão incluídos obstáculos. É a morte do filho idealizado, um processo que exige um período de luto”. Superada essa fase, ela mergulhou de cabeça na nova realidade. Varou noites lendo livros e buscando informações na internet e, principalmente, redescobriu o filho. “Me reergui vendo que esta criança que está na minha frente é uma fonte de amor infinito, por quem tenho um amor maior que o mundo”, declara.

Fonte:  Raquel Paulino - especial para o iG São Paulo

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cientistas criam 'minicérebro humano' em laboratório

Minicérebro criado a partir de células-tronco (PA)

Estruturas do tamanho de ervilhas foram criadas a partir de células-tronco e células de pele
Miniaturas de "cérebros humanos" foram desenvolvidos em laboratório por cientistas austríacos, em um feito que, segundo especialistas, pode transformar nossa compreensão sobre males neurológicos.
As estruturas criadas, que são do tamanho de ervilhas, alcançaram o mesmo nível de desenvolvimento de um feto de nove semanas, mas são incapazes de pensar.
Segundo os cientistas, que são do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia de Ciências Austríaca, elas reproduzem em laboratório algumas das etapas iniciais de desenvolvimento cerebral.
O cérebro humano é uma das estruturas mais complicadas existentes no universo. O estudo, publicado no periódico Nature, já foi usado para ampliar a compreensão a respeito de doenças raras.

Desenvolvimento

Os cientistas usaram células-tronco embrionárias ou células de pele adulta para produzir a parte do embrião que se torna o cérebro e a espinha dorsal - o ectoderma neural.
Essa parte foi colocada em gotículas minúsculas de gel, que permitiram que o tecido crescesse, e em um bio-reator giratório, que provê nutrientes e oxigênio.
As células puderam crescer e se organizar em diferentes partes do cérebro, como o córtex e uma versão inicial do hipocampo, bastante ligado à memória em um cérebro adulto plenamente desenvolvido.
Os pesquisadores creem que essa estrutura chega perto - ainda que não perfeitamente - do desenvolvimento inicial do cérebro fetal.
Os tecidos chegaram a seu tamanho máximo, cerca de 4mm, em dois meses.
Os "minicérebros" sobreviveram por quase um ano, mas não cresceram além disso. Eles não contavam com suprimento de sangue, apenas de tecido cerebral. Ou seja, nutrientes e oxigênio não puderam penetrar na estrutura.
"Nossos organóides servem para modelar o desenvolvimento do cérebro e para estudar qualquer coisa que cause defeitos nesse desenvolvimento", explicou Juergen Knoblich, um dos pesquisadores.
Segundo ele, o objetivo é ampliar o conhecimento a respeito de distúrbios mais comuns, como a esquizofrenia e o autismo, partindo do princípio de que indícios deles podem surgir na fase de desenvolvimento do cérebro.
A técnica também pode ser usada para substituir camundongos em testes de medicamentos e tratamentos.

'Extraordinário'

Pesquisadores já haviam conseguido produzir células cerebrais em laboratório, mas a iniciativa austríaca é a que chegou mais perto de criar um cérebro humano.
Por isso, a novidade chamou atenção entre cientistas.
"É surpreendente", disse à BBC Paul Matthews, professor do Imperial College, em Londres. "A noção de que podemos tirar uma célula da pele e tranformá-la - ainda que seja no tamanho de uma ervilha - em algo que se assemelha a um cérebro é simplesmente extraordinária."
Segundo ele, apesar de o minicérebro não estar se comunicando ou pensando, ele "é o tipo de ferramenta que nos ajuda a entender muitos dos principais distúrbios cerebrais".
Pesquisadores já estão usando a descoberta para investigar uma doença chamada microcefalia, cujos portadores têm cérebros menores do que o normal.
Ao criar um minicérebro com células de pacientes de micocefalia, a equipe conseguiu estudar mudanças no desenvolvimento cerebral dessas pessoas. Percebeu, por exemplo, que as células desses pacientes se adiantavam em sua transformação em neurônios.

Questões éticas e possibilidades

Os pesquisadores em Viena não veem, no momento, nenhum dilema ético em seu trabalho, mas Knoblich afirma que não seria "desejável" fazer cérebros muito maiores do que os já desenvolvidos.
Na opinião de Zameel Cader, neurologista consultor no hospital John Radcliffe, em Oxford, a pesquisa ainda não traz problemas éticos.
"(O minicérebro) está longe de ter consciência do mundo exterior", disse à BBC.
Para Martin Coath, da Universidade de Plymouth, "se (o minicérebro) se desenvolve de maneiras que reproduzem as do desenvolvimento do cérebro humano, o potencial para o estudo de doenças é claro. O teste de medicamentos, porém, é mais problemático. A maioria deles age em coisas como humor, percepção, controle do corpo, dor. E esse tecido que simula um cérebro não tem nenhum dessas coisas ainda".

Fonte:

Aquecedor de bebê para evitar mortes de prematuros


Foto: BBC
Todos os anos, 20 milhões de bebês nascem prematuros.
Empresas na Índia estão desenvolvendo tecnologias baratas para reduzir a morte de prematuros no país, que tem a maior taxa de mortalidade de bebês que nascem antes das 37 semanas de gravidez.
Para tentar reverter os índices de mortalidade de bebês prematuros na Índia, a multinacional americana GE e o Instituto de Design de Stanford desenvolveram incubadoras de baixo custo que estão salvando vidas.
A cada ano no mundo, mais de 20 milhões de bebês nascem prematuros ou com baixo peso, e estima-se que 450 morram a cada hora.
No entanto, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas simplesmente se os bebês fossem mantidos aquecidos.
"O choro de um bebê recém-nascido pode ser ouvido facilmente fora do quarto, no meio do corredor. Mas o do meu bebê, não. Ele só consegue choramingar", diz Jayalakshmi Devi.
Em pé do lado de fora da UTI neonatal, ela olha para a caixa de vidro onde está seu bebê.
Nascido prematuro, ele pesa menos de meio quilo e tem apenas 40% de chances de sobreviver.
Jayalakshmi já perdeu dois bebês e não queria correr o risco novamente. Após dar à luz em um centro de saúde em uma área rural fora de Bangalore, ela trouxe seu bebê para um hospital público da cidade.
A temperatura corporal dos bebês cai imediatamente depois que eles saem do útero, então é importante evitar que percam calor, agasalhando-os. Mas isso é mais difícil de ser feito no caso de bebês prematuros, pois como eles têm pouquíssima gordura corporal, não é fácil regular a temperatura.
Para sobreviver, eles precisam ficar em incubadoras, um equipamento que custa caro para os hospitais públicos.

Aquecedor de bebê


O Embrace é capaz de manter a temperatura do bebê por 6 horas sem recarga de energia
Desenvolvido pela GE em Bangalore, em 2009, o "baby warmer" (aquecedor de bebês) custa US$3 mil (cerca de R$ 7,5 mil) na Índia, 70% mais barato do que os modelos tradicionais.
A máquina é muito simples de operar, tornando-a acessível a profissionais de saúde em zonas rurais. A incubadora também consome menos energia, reduzindo gastos com eletricidade de hospitais e clínicas.
O diretor da divisão de sáude da GE, Ravi Kaushik, diz que a Índia é o centro de inovação ideal para produtos como este, porque 70% da população vivem em áreas rurais, 30% estão nas cidades e de uma ponta a outra há uma grande variedade de classes sociais.
"Então é possível ver hospitais com padrões de primeiro mundo, com equipamentos americanos e europeus. Mas, ao mesmo tempo, existe a grande população rural com outros tipos de necessidades", diz Kaushik.
Apesar de a técnica da GE ser ideal para centros de saúde com orçamento apertado, ainda precisa de eletricidade para funcionar.
Na base da pirâmide social da Índia, muitas mulheres dão à luz em vilarejos remotos com pouco acesso a atendimento de saúde e eletricidade.

Abraço

Para conseguir manter seus bebês aquecidos, as mães os embalam em camadas de tecido, além de tentarem outras técnicas tradicionais, como bolsas de água quente. Muitos não sobrevivem.
Mas agora um saco de bebê produzido a baixo custo está salvando muitas vidas. O Embrace (Abraçar) surgiu de um projeto idealizado por quatro estudantes de graduação do Insituto de Design da Universidade de Stanford, na Califórnia, em 2007.
Usando princípios da física eles utilizaram uma substância com consistência da cera que ao se solificar após ser derretida, mantem a temperatura desejada de 37 graus durante seis horas.
O produto final se assemelha ao um saco de dormir durável e fácil de transportar. Requer apenas 30 minutos de eletricidade para ser aquecido por meio de um aquecedor portátil que vem na embalagem.
Mais importante, permite o contato com o corpo da mãe, o que não ocorre com as incubadoras tradicionais.
O Embrace é produzido a um custo de US$200, é reutilizvel e é doado em comunidades pobres da Índia.
Acredita-se que a invenção tenha ajudado a salvar mais de 22 mil crianças prematuras ou que nasceram com baixo peso.
A organização por trás do projeto também criou programas educacionais para orientar populações pobres sobre como agir em casos de hipotermia.
"Nós esperamos que o acesso crescente a tecnologia e educação seja suficientes para alcançarmos nosso principal objetivo: que toda mulher e criança possam ter a chance de ter uma vida saudável".

Fonte:BBC

Teste pode ajudar a detectar Parkinson antes de os sintomas aparecerem

Técnica desenvolvida por pesquisadores permite visualizar caminhos que levam ao núcleo subtalâmico, pequena região do cérebro onde eletrodo é implantado para parar tremores relacionados ao Parkinson
Parkinson: Doença acontece quando a comunicação entre os neurônios é prejudicada pela falta de um neurotransmissor chamado dopamina (Thinkstock)
Pela primeira vez, uma pesquisa conseguiu identificar biomarcadores específicos para o Parkinson — ou seja, substâncias presentes no corpo de uma pessoa que acusam a existência de uma doença antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas. Segundo os autores do estudo, a descoberta pode levar a um teste que detecte a condição de forma mais precoce do que é feito atualmente, mudando tanto o diagnóstico da doença quanto o seu tratamento. Hoje, o Parkinson é diagnosticado com base em sintomas clínicos, como tremores nas mãos e lentidão nos movimentos.
A nova pesquisa foi desenvolvida na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicada neste mês na revista JAMA Neurology. As conclusões são as primeiras de um estudo que começou há cinco anos e que se chama Iniciativa de Marcadores da Progressão do Parkinson (PPMI, sigla em inglês).
Essa primeira etapa da pesquisa analisou o fluido cefalorraquidiano (líquido que protege o cérebro e a medula espinhal) de 102 pessoas. Dessas, 63 apresentavam um estágio inicial de Parkinson, mas não haviam começado a receber tratamento para a doença. O restante não apresentava a condição. Os pesquisadores observaram especialmente cinco proteínas nas amostras.

Mecanismo — De acordo com os resultados, pessoas com a fase inicial da doença apresentam níveis mais baixos das proteínas beta amiloide e alfa sinucleína em comparação com indivíduos saudáveis. Além disso, os participantes com Parkinson que tinham os problemas motores mais graves também foram aqueles que apresentaram os menores níveis das proteínas tau e alfa sinucleína. Por outro lado, as pessoas que apresentavam enrijecimento muscular apresentaram níveis muito baixos de beta amiloide.
A doença de Parkinson acontece quando a comunicação entre os neurônios é prejudicada pela falta de um neurotransmissor chamado dopamina. Ele torna os sinais enviados para os músculos mais fortes. Quando as células nervosas que produzem a dopamina começam a morrer, a comunicação é prejudicada e surgem sintomas como descoordenação motora, tremores, e movimento lento. Para os autores desse novo estudo, a degradação de determinadas proteínas pode ajudar na melhor compreensão sobre a doença.
Ainda segundo os pesquisadores, essas conclusões sugerem que, um dia, será possível detectar precocemente a doença de Parkinson e a sua progressão por meio de um teste que analise o fluido espinhal. Com isso, a equipe acredita que será possível desenvolver tratamentos que barrem o avanço dos sintomas o mais cedo possível, melhorando a qualidade de vida de pessoas com a doença.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Comparison of Cerebrospinal Fluid Levels of Tau and Aβ 1-42 in Alzheimer Disease and Frontotemporal Degeneration Using 2 Analytical Platforms​

Onde foi divulgada: periódico JAMA Neurology

Quem fez: David J. Irwin, Corey McMillan, Jon Toledo, Steven Arnold, Leslie Shaw, Li-San Wang, Vivianna Van Deerlin, Virginia Lee, John Trojanowski e Murray Grossman

Instituição: Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos

Dados de amostragem: 102 pessoas com e sem doença de Parkinson

Resultado: Os níveis de determinadas proteínas no fluido cereborspinal de uma pessoa podem acusar a doença de Parkinson antes do surgimento dos primeiros sintomas.

Fonte: Revista Veja

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Epidermólise Bolhosa

 
A Epidermólise Bolhosa (EB) é uma doença grave e rara, não contagiosa, que se caracteriza por uma sensibilidade muito acentuada na pele e mucosas com formação de bolhas nas células epidérmicas, especialmente nas áreas de maior atrito, como resposta a qualquer acidente doméstico ou casual, ou mesmo mudanças climáticas.
As pessoas com EB podem nascer com bolhas em algumas áreas, podem vir a ter bolhas imediatamente após o nascimento, ou podem nascer com ausência total de pele em algumas regiões do corpo. Isto os torna muito suscetíveis a sérias complicações secundárias como infecções. Podem, ainda, nascer com complicações nos olhos, ou mesmo perda de visão.
Os acometidos por EB podem nascer de pais com ou sem parentesco; de famílias que tiveram antecedentes com EB, ou mesmo de famílias que nunca viram ou ouviram falar na doença em parentes anteriormente.
Até o momento a EB não tem cura. A engenharia genética e as ciências da saúde têm trabalhado no assunto, mas a cura ainda é vista como um fato a acontecer no futuro. Com o avanço da Ciência na área de genética, tem-se a esperança de cura dentro de alguns anos.

Fonte: http://www.appeb.org.br/epidermolise.php

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Estudo prova que ronco pode ser eliminado com exercícios de canto

Sono (Arquivo/BBC)
Exercícios visam lidar com músculos flácidos da garganta
Um estudo realizado na Grã-Bretanha provou que o ronco pode ser reduzido ou mesmo eliminado com exercícios de canto.
Durante três meses, 60 pacientes participantes dos testes clínicos no hospital Royal Devon and Exeter, na cidade de Exeter (sudoeste da Inglaterra) fizeram os exercícios para melhorar a tonificação dos músculos da garganta desenvolvidos por uma professora de canto local, Alise Ojay, especificamente para pessoas que roncam.
velmente grande, tivemos 60 pessoas com roncos simples e outros 60 com apneia do sono. A metade deles estava nos grupos de controle onde não fizeram nada, enquanto os outros fizeram os exercícios", explicou Ojay à BBC. Segundo ela, pacientes que fazem estes exercícios de voz, pronunciando os sons "ung" e "gar" juntos e em tons diferentes conseguiram diminuir e até acabar com o ronco.
A diretora de coral afirmou à BBC que os exercícios precisam ser feitos diariamente, durante três meses, para o paciente conseguir alguma melhora. Estes exercícios diários são realizados durante 12 minutos no primeiro mês e 18 minutos nos meses seguintes.

Depois de anos de estudo e testes com voluntários que roncavam, os estudiosos descobriram que os exercícios vocais funcionam para as pessoas que sofrem de uma forma simples do problema e aquelas com apneia do sono suave ou moderada.
Existem diferentes causas para o ronco. Mas, de acordo com Ojay, a maioria dos que começam a roncar com o passar do tempo, como parte do processo de envelhecimento, o fazem devido à falta de tônus muscular na garganta.
"Quando se deitam para dormir, os tecidos obstruem a garganta, a respiração é mais turbulenta e forçada. É quando qualquer tecido solto começa a vibrar", disse a especialista.
"E estes exercícios foram elaborados especificamente para as pessoas que roncam porque os músculos da garganta ficaram flácidos", acrescentou.
A diretora de coral gravou um CD com os exercícios para tonificar a garganta que, segundo ela, são diferentes do que simplesmente o ato de cantar.
"Trabalho com sons que soam vigorosamente e movimentos fortes e repetitivos no músculo importante para a pessoa que ronca", afirmou.
Ojay acrescenta que estes exercícios são como ir à academia para trabalhar uma área específica de músculos, de uma forma repetitiva.



Fonte: BBC

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Crianças autistas têm melhor desempenho em matemática do que as outras


Na Grã-Bretanha, terra natal da pesquisa, acredita-se que 2% das crianças tenham o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Bons alunos: Crianças autistas com um QI dentro da média se saem melhor em matemática do que crianças sem o transtorno, diz estudo (Polka Dot/Thinkstock)
O autismo é um termo geral que diz respeito a qualquer categoria dentro dos transtornos do espectro autista — ou seja, pessoas com o distúrbio apresentam características muito diferentes entre si. Em termos de cognição, há autistas com extrema dificuldade em desenvolver a fala e as habilidades acadêmicas, ao mesmo tempo em que existem indivíduos com o transtorno que são extremamente inteligentes e até geniais.
Um novo estudo feito na Faculdade de Medicina da Universidade Stanford, Estados Unidos, observou que crianças autistas com um QI dentro da média geral — e que, portanto, não se enquadram em nenhum dos extremo descritos acima — têm um melhor desempenho em resolver problemas matemáticos do que crianças sem o transtorno. Para os pesquisadores, isso pode ser explicado pela forma única em que o cérebro de pessoas com autismo é organizado. Ou seja, em pessoas com o transtorno existe uma maior atividade em áreas cerebrais que favorecem essa habilidade. O trabalho será publicado neste final de semana no periódico Biological Psychiatry.
Se, por um lado, crianças autistas apresentam problemas de interação social, como interpretar a expressão do rosto de uma pessoa, essa pesquisa mostrou que podem existir habilidades que são favorecidas pelo transtorno, como a capacidade de resolver questões matemáticas. "Ser capaz de resolver uma questão numérica e ter um bom desempenho em matemática pode fazer uma grande diferença na vida de uma criança autista", diz Vinod Menon, professor de psiquiatria da universidade e coordenador do estudo.
A pesquisa foi feita com 36 crianças de 7 a 12 anos – metade delas tinha autismo e todas apresentavam um QI dentro da média. Ao realizarem testes acadêmicos, todos os participantes apresentaram desempenho normal em ler e escrever. Porém, o desempenho médio das crianças autistas no teste de matemática foi superior ao das que não tinham o transtorno.

Fonte: Revista Veja

Brasil tem alta taxa de prematuros

O número de nascimentos prematuros no Brasil – principal causa de morte até os 28 dias de vida do bebê – se assemelha ao de países de baixa renda. A cada mil brasileiros nascidos em 2011, 117 não chegaram a completar 37 semanas de gestação. Em países pobres, foram 118 prematuros para mil partos, contra 94 nos de renda média. O dado nacional é bastante superior ao que vinha sendo considerado pelo Ministério da Saúde até então – 7,2% – e tem relação com as altas taxas de cesáreas eletivas praticadas no país. É o que afirma o estudo “Prematuridade e suas possíveis causas”, desenvolvido na Universidade Federal de Pelotas, com participação de 12 universidades brasileiras e apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).O obstetra Carlos Miner Navarro, professor da Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR), explica que existem dois tipos de prematuridade: um que pode ser minimizado com medidas como acompanhamento pré-natal, por meio de utrassonografia, e outro diretamente relacionado à escolha pela cesariana. No primeiro caso, se o exame indicar que o colo do útero é curto, é feita medicação para atrasar a data do parto. “Estudos mostram que uma ou duas semanas fazem muita diferença no desenvolvimento do bebê”, explica.

O desafio, porém, é reduzir o número de cesáreas eletivas no país. Segundo Navarro, se o parto normal fosse priorizado no país, a taxa de prematuridade cairia. Atualmente, o número de cesarianas supera o de partos naturais, chegando a 80% dos nascimentos em hospitais privados. “Exceto em casos específicos, o parto normal é sempre melhor. Há margem de erro nas contas das semanas e, muitas vezes, o bebê é retirado sem estar pronto. O trabalho de parto termina de amadurecer a criança, joga uma série de hormônios na corrente sanguínea e fortalece o tórax.”

Segundo a pediatra e neonatologista Regina Caval­­cante, coordenadora da UTI neonatal do Hospital de Clí­nicas, entre as causas de partos prematuros, estão assistência pré-natal inadequada, uso de drogas, gravidez gemelares e fora da idade ideal. “Os dois extremos são risco: as mães adolescentes e as mães acima de 35 anos.”


As preocupações com o bebê prematuro, vão além da mortalidade. Expostos a tratamentos agressivos e ao ambiente de terapia intensiva, há risco de infecção e de sequelas neurológicas, respiratórias e de visão. “Quanto menor o bebê, maior o risco de retinopatias, que podem causar cegueira”, completa Regina.


Pediatra na UTI neonatal do Hospital Nossa Senhora das Graças, Rejane Biasi Cunha explica que o peso nem sempre é o fator mais determinante para a sobrevivência do bebê. “A idade funcional é mais importante, porque às vezes ele pesa pouco por ser desnutrido e não é tão prematuro.”


Parto normal, uma escolha feliz


Enquanto fazia o pré-natal do primeiro filho, há três anos, a fotógrafa e publicitária Laiz Zotovici Martins, 33 anos, foi desaconselhada pelo médico a tentar parto normal. “Ele disse que eu não tinha dilatação, contração e agendou a cesárea para 39 semanas e meia. Sendo que poderíamos ter, pelo menos, esperado eu entrar em trabalho de parto”, recorda. Seis meses depois do nascimento de Antônio, Laiz criou um blog sobre maternidade e começou a trocar informações com médicos e outras mães pela internet.


Quando veio a segunda gravidez, no final do ano passado, ela estava decidida a encontrar um obstetra adepto do parto normal. “Foi uma escolha bem feliz! Na mesma semana do parto, já estava lavando roupa, fazendo comida e podendo brincar e dar atenção ao Antônio.”


Segundo Laiz, o segundo filho, Théo, apresenta imunidade maior do que o primogênito. “O parto é um sofrimento necessário para o fortalecimento do pulmão, e, para a mulher, é uma experiência única e profunda de autoconhecimento. Se eu tiver outro filho, será de parto normal, talvez até em casa.”


80% é a taxa de sobrevida dos prematuros nascidos entre 28 e 37 semanas. Mas a pediatra Rejane Biasi Cunha explica que esse porcentual varia muito, e cai para 60% com gestação inferior a 28 semanas. Abaixo de 22 semanas não há maturidade suficiente para o bebê sobreviver.


 


Fonte: GAZETA DO POVO

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Espanhóis propõem caminho para detectar Alzheimer até dez anos antes dos primeiros sintomas


A deterioração das funções cerebrais apresentada pelos pacientes de Alzheimer dá-se pela destruição dos neurônios e suas conexões
A deterioração das funções cerebrais apresentada pelos pacientes de Alzheimer dá-se pela destruição dos neurônios e suas conexões (Thinkstock)
Uma descoberta publicada no periódico Annals of Neurology pode significar um grande avanço em um dos aspectos mais problemáticos do Alzheimer: seu diagnóstico. Atualmente, não existe um modo seguro e definitivo de identificar o distúrbio; por esse motivo, os médicos diagnosticam seus pacientes com Alzheimer tendo como base apenas um conjunto de sintomas.
De acordo com pesquisadores do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona, porém, dez anos antes de os sintomas se manifestarem nos pacientes, é possível encontrar um indicador da doença no organismo.
O indicador apontado pelos cientistas está no líquido que envolve o cérebro e a medula espinhal, chamado líquido cefalorraquidiano. Os cientistas defendem a tese de que uma diminuição no DNA mitocondrial presente nesse líquido pode ser um sinal do desenvolvimento do Alzheimer.
Segundo eles, essa diminuição de DNA mitocondrial é um reflexo do mau funcionamento das mitocôndrias dos neurônios. Como as mitocôndrias são responsáveis pela respiração celular, seu mau funcionamento leva à morte das células — no caso, das células nervosas. Em outras palavras, a diminuição do DNA mitocondrial sugere a perda de neurônios.
Mais completo — A melhor tentativa de prever o aparecimento do Alzheimer por meio de marcadores biológicos até agora havia sido feita por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em julho de 2012. Em um estudo publicado no New England Journal of Medicine, os americanos revelaram que as alterações biológicas e estruturais relacionadas ao Alzheimer no cérebro se iniciam até 25 anos antes das primeiras manifestações sintomáticas.
Mas a pesquisa espanhola, apesar de detectar a doença com menos tempo de antecedência, é mais abrangente, capaz de prever todos os tipos de Alzheimer. "Ainda não se sabe se as alterações verificadas nos cérebros de indivíduos afetados pelo tipo familiar do Alzheimer [forma mais rara que ocorre em indivíduos mais jovens, que desenvolveram a doença por conta de uma herança genética], são encontradas também nos cérebros dos pacientes acometidos pelo outro tipo de Alzheimer, o esporádico [mais comum e desenvolvido por uma série de fatores ainda incertos]. Estudos estão sendo conduzidos para tentar esclarecer essa pergunta", afirma Ramon Trullas, um dos autores responsáveis pelo projeto espanhol, em entrevista ao site de VEJA.
Segundo Trullas, os resultados da pesquisa espanhola vão além e podem ser aplicados aos dois tipos do distúrbio, esporádico e familiar, tornando o ainda mais preciso do que o trabalho americano realizado anteriormente. "Agora, gostaria de enfatizar que o próximo passo é testar nossa descoberta em outros hospitais e diferentes grupos de pessoas", diz.

Fonte: Revista Veja

App transforma celular em 'oftalmologista portátil'

Aplicativo Peek em ação (Foto: Andrew Bastawrous)
Aplicativo pode fazer exames de fundo de olho (Foto: Andrew Bastawrous)
Um pesquisador da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (London School of Hygiene and Tropical Medicine) está testando um novo aplicativo que transforma celulares em uma espécie de consultório de oftalmologia de bolso.
Andrew Bastawrous está testando o aplicativo Peek (Portable Eye Examination Kit, ou kit portátil de exame de olhos, em tradução livre) em 5 mil pessoas no Quênia.
O aplicativo usa a câmera do celular para examinar os olhos e detectar a catarata. Além disso, uma letra que aparece na tela e vai diminuindo de tamanho é usada no exame básico de visão - que detecta, por exemplo, a necessidade de óculos.
E, com o aplicativo, a luz do flash da câmera do celular é usada para iluminar o fundo do olho, a retina, para tentar detectar mais doenças.
As informações do paciente ficam no celular, o lugar exato onde ele está é também gravado usando o GPS do aparelho e os resultados podem ser enviados por e-mail a médicos.
Bastawrous criou esta solução pois, até mesmo nos países mais pobres, é possível encontrar oftalmologistas nas cidades maiores. Mas, encontrar os pacientes em locais mais afastados é um problema.
"Os pacientes que mais precisam (do atendimento oftalmológico) nunca vão conseguir chegar a um hospital, pois eles estão além do fim da estrada, eles não têm renda para o transporte, então precisávamos de um jeito para encontrá-los", afirmou.
Segundo a Organização Mundial de Saúde 285 milhões de pessoas são cegas ou portadoras de deficiência visual.
Mas, de acordo com a organização, o tratamento destes problemas frequentemente é simples: óculos ou cirurgia podem transformar a visão de uma pessoa.
Acredita-se que quatro a cada cinco casos podem ser evitados ou curados.

Custos e curas

O telefone é relativamente barato, custando cerca de 300 libras (mais de R$ 1.070) em comparação com o grande equipamento de exame oftalmológico que pode custar até 100 mil libras (quase R$ 358 mil).
Mirriam Waithara (Foto: Andrew Bastawrous)
Mirriam Waithara fez os exames em casa graças ao Peek (Foto: Andrew Bastawrous)
As imagens que o aplicativo capturou durante os testes em Nakuru, no Quênia, estão sendo enviadas para o Hospital Oftalmológico de Moorfield, em Londres.
Estas imagens estão sendo comparadas com as feitas em um aparelho tradicional de exames, que foi transportado pela região em uma camionete.
O estudo ainda não está completo, mas a equipe de pesquisadores afirma que os primeiros resultados são animadores e mil pessoas já receberam algum tipo de tratamento até agora.
Entre os pacientes beneficiados está Mirriam Waithara, que vive em uma área pobre e remota do Quênia onde não há médicos para diagnosticar a catarata que quase a cegou.
Mas, depois de passar pelos exames com o Peek, Mirriam fez a operação para remover a catarata e agora pode enxergar novamente.
"O que esperamos é que (o aplicativo) forneça cuidados para os olhos para aqueles que são os mais pobres entre os pobres", disse Bastawrous.
"Muitos hospitais fazem a cirurgia de catarata, que é a causa mais comum de cegueira, mas a verdade é que levar o paciente para os hospitais é um problema."
"O que podemos fazer usando isto é permitir que técnicos cheguem aos pacientes, às suas casas, os examinem lá e os diagnostiquem", afirmou o pesquisador.

Sem treinamento

Mesmo sem ter sido concluída, a pesquisa já está gerando elogios.
Peter Ackland, da Agência Internacional para Prevenção da Cegueira, afirmou que o aplicativo tem potencial para ser "decisivo" na luta contra doenças que afetam a visão.
"Se você é alguém que sustenta uma família e você não consegue enxergar, então você não consegue trabalhar e a família entra em crise", afirmou.
"No momento, nós simplesmente não temos funcionários treinados em saúde dos olhos para levar estes serviços para as comunidades mais pobres. Esta ferramenta vai permitir fazer isto com pessoas relativamente sem treinamento", acrescentou.
Ackland acredita que a África e o norte da Índia serão as regiões que devem se beneficiar mais com o novo aplicativo, pois os oftalmologistas e técnicos destas regiões estão operando com cerca de 30% a 40% de sua capacidade.

Fonte:

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Coração feito com células-tronco é capaz de bater sem ajuda de aparelhos


coração
Coração: o órgão feito em laboratório apresenta uma taxa de 40 a 50 batimentos por minuto, ainda inferior à de um adulto normal, que é de 60 a 100 batimentos (Thinkstock)
Pela primeira vez, um coração feito em laboratório a partir de células humanas foi capaz de se contrair e apresentar batimento. Cientistas relataram o avanço em um estudo publicado nesta terça-feira, no periódico científico Nature Communications.
A equipe de pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, Estados Unidos, criou o coração usando células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), que são obtidas a partir de células humanas da pele e podem se transformar em qualquer tipo de célula, e uma estrutura tridimensional resultante de um coração de camundongo que teve todas as células removidas em laboratório.
As células-tronco pluripotentes foram tratadas em laboratório para se diferenciarem em células cardíacas progenitoras multipotentes (MCP), capazes de originar diferentes tipos de células que formam o coração. "Ninguém tinha tentado utilizar essas células para regeneração cardíaca antes. Nós descobrimos que a matriz extracelular do coração – material a partir do qual é feita a estrutura do coração – emite sinais que guiam as células MCP para que elas se tornem as células especializadas que são necessárias para o funcionamento correto do coração", explica Lei Yang, professor de biologia do desenvolvimento na Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, e um dos autores do estudo.
Inseridas na estrutura tridimensional, composta de proteínas e carboidratos aos quais as células aderem, as células cresceram e originaram um músculo cardíaco. Após 20 dias sendo irrigado com sangue, o órgão reconstruído começou a se contrair novamente, a uma taxa de 40 a 50 batimentos por minuto.
Ainda é preciso, porém, encontrar formas para fazer o coração se contrair forte o suficiente para bombear sangue de forma eficaz e reconstruir o sistema de condução elétrica do coração — para um adulto, o ritmo cardíaco normal varia entre 60 e 100 batimentos por minuto. "Ainda estamos longe de fazer um coração humano completo. No entanto, nós oferecemos uma nova fonte de células — células MCPs derivadas de iPS — para a futura engenharia de tecido cardíaco", afirma o pesquisador.

Fonte: Revista Veja

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cientistas usam rostos famosos para identificar demência precoce


Apesar de ser mais comum entre os idosos, a demência também pode afetar os mais jovens
Apesar de ser mais comum entre os idosos, a demência também pode afetar os mais jovens (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, conseguiram identificar o início da demência em indivíduos entre os 40 e 65 anos de idade por meio de um teste que usa as fotografias de personalidades célebres como elemento principal. A demência consiste na diminuição progressiva de funções mentais como o raciocínio e a memória. Segundo os pesquisadores, a incapacidade de reconhecer rostos famosos como os do físico Albert Einstein ou do astro Elvis Presley pode indicar o início do problema.
Para chegar à conclusão, publicada nesta terça-feira no periódico Neurology, os cientistas reuniram um grupo de 57 pessoas com média de 60 anos de idade. Enquanto 27 indivíduos desse grupo não apresentavam nenhum tipo de problema em suas habilidades cognitivas, trinta sofriam de afasia progressiva primária, um tipo de demência que se manifesta nas pessoas antes da velhice e afeta o centro da linguagem no cérebro.
Os participantes do estudo examinaram uma série de vinte imagens impressas em preto e branco com rostos de personalidades famosas. O objetivo era conseguir nomear corretamente esses rostos. A cada rosto nomeado, o participante ganhava uma determinada quantidade de pontos; se só conseguia reconhecer, mas esquecia o nome da personalidade da foto, os cientistas pediam para que o indivíduo identificasse o rosto famoso por meio da descrição.
Ao comparar as pontuações obtidas pelos indivíduos afásicos com as conquistadas pelos participantes livres de demência, os cientistas descobriram que os afásicos tiveram um desempenho significativamente menor do que os outros: conseguiram reconhecer 79% dos rostos, e nomear apenas 46% deles. Entre o outro grupo, as porcentagens foram de 97 e 93%, respectivamente.
Envelhecimento — O teste de reconhecimento de faces já era usado antes, porém apenas em pessoas idosas, com mais de 65 anos — faixa etária em que a demência é mais comum. Apesar disso, é importante ressaltar que a demência não é um estágio natural do processo de envelhecimento.
Os cientistas de Northwestern modificaram o teste para que fosse possível identificar a demência em indivíduos mais jovens. Para isso, incluíram os rostos de personalidades relevantes para pessoas com idades entre 40 e 65 anos.
Ressonância magnética — Além do teste, os participantes do estudo também foram submetidos a ressonâncias magnéticas que buscavam identificar as áreas do cérebro responsáveis por reconhecer e nomear rostos famosos.
Os exames mostraram que as pessoas com dificuldade em nomear os rostos têm uma maior tendência à perda de tecido do lobo temporal cerebral esquerdo, enquanto os problemas de reconhecimento estão ligados à perda de tecido em ambos os lobos temporais, direito e esquerdo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Naming vs knowing faces in primary progressive aphasia

Onde foi divulgada: periódico Neurology

Quem fez: Tamar Gefen, Christina Wieneke, Adam Martersteck, Kristen Whitney, Sandra Weintraub, M.-Marsel Mesulam e Emily Rogalski

Instituição: Universidade de Northwestern, EUA

Dados de amostragem: 57 pessoas com média de 60 anos de idade

Resultado: Os pesquisadores descobriram que é possível identificar o início do declínio das habilidades cognitivas de pessoas antes do envelhecimento, por meio do teste de reconhecimento de faces

Fonte: Revista Veja

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Teste do coraçãozinho pode detectar se bebê tem doença cardíaca grave

Um aparelho mede a coloração do sangue e o resultado é normal quando fica acima de 95%. O exame é rápido, feito 24 horas após o nascimento.

Mais de 20 mil crianças nascem todo ano com problemas no coração, e o que pouca gente sabe é que já é possível fazer um diagnóstico nos primeiros minutos de vida. O teste é simples, mas infelizmente não está disponível para todo mundo ainda. Ele é oferecido de graça em algumas maternidades em todo o país.
Todo mundo conhece o teste do pezinho, mas também existe o teste do coraçãozinho. É um exame rápido, feito 24 horas após o nascimento. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor para a criança, dizem os médicos.
Segurança para a mãe e para o filho. Um exame que pode ser feito 24 horas depois do parto, ainda no hospital, aponta se está tudo bem com o coração do recém-nascido.
O teste do coraçãozinho é simples e rápido. Dura no máximo cinco minutos e pode detectar se o bebê nasceu com alguma doença cardíaca grave e, se for o caso, encaminhá-lo para tratamento o mais rapidamente possível.
Uma pulseirinha eletrônica é colocada na mão e depois no pé do bebê. Os dados são enviados para um aparelho que mede a coloração do sangue. Se o resultado ficar acima de 95%, não há problemas e o bebê tem alta.
“Tudo certo. Alívio, tranquila. Só curtir agora em casa”, diz Gislene Cristiana, demonstradora.
O teste já pode ser feito de graça na rede pública em algumas capitais como São Paulo  e Rio de Janeiro. Em Brasília, nove dos 12 hospitais públicos também oferecem o serviço.
“Todo bebê que nasce, antes de receber alta faz esse teste. Nós sabemos que, em média, de uma a duas crianças em cada mil nascimentos vão apresentar uma cardiopatia dessas graves. E essas crianças vão ser beneficiadas”, declara Martha Vieira, coordenadora, neonatologista da Secretaria de Saúde – DF.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a realização do exame. “Várias doenças cardíacas na infância se manifestam de forma muito silenciosa nos primeiros dias. A equipe médica pode não detectar nenhum sinal, o bebê pode ir para casa aparentemente bem e após, no final da primeira semana, nos primeiros 15 dias de vida, essa criança manifesta quadro clínico muito grave. Infelizmente nessas situações o tratamento da doença já pode ser tardio e alguns bebês falecem sem conseguir um tratamento adequado”, diz Jorge Afiune, cardiologista pediátrico da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Quando o teste aponta uma doença, o bebê precisa fazer outro exame, o ecocardiograma, que vai identificar o tipo de problema e qual a gravidade.

Fonte: Bom Dia Brasil (http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/08/teste-do-coracaozinho-pode-detectar-se-bebe-tem-doenca-cardiaca-grave.html)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O poder do esquecimento

Kate Winslet e Jim Carrey no filme 'Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças' (2004)

Kate Winslet e Jim Carrey no filme 'Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças' (2004): em breve poderemos apagar as memórias com uma pílula. Valerá a pena? (Reprodução)
O filme é de 2004, mas ainda está vivo na memória de quem assistiu: Clementine (Kate Winslet) quer esquecer seu ex-namorado Joel (Jim Carrey), e para isso se submete a um tratamento experimental que apaga todas as lembranças dos momentos que passaram juntos. Quase dez anos depois, pesquisadores estão perto de fazer com que a ficção de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças se torne realidade. Em breve, finalmente poderemos deletar fatos traumáticos ou indesejados do passado.
Se isso vai ser possível, é porque as memórias não são arquivos fixos. Muito recentemente, a neurociência confirmou uma hipótese que surgiu nos anos 1960, mas nunca tinha sido levada a sério: nossas lembranças são muito mais flexíveis do que se pensava — estão mais para uma peça de teatro, com suas mudanças sutis noite após noite, do que para um filme. A cada vez que acessamos uma lembrança, podemos moldá-la novamente. Não por acaso, em Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, quando percebe que foi deletado do passado de Clementine e resolve fazer o mesmo, o personagem Joel precisa relembrar toda sua história com ela. E na medida em que as lembranças veem à tona é que elas podem ser apagadas. Na vida real, o mesmo objetivo pode ser atingido, experimentalmente, bloqueando a síntese das proteínas certas.
O resgate e a reconsolidação das lembranças depende da ativação de uma vasta conexão de neurônios. Para ser formada, uma memória de um evento qualquer ativa uma série de neurônios, que passam então a ficar conectados. É essa ligação a responsável por lembrarmos do primeiro beijo, por exemplo. Se a transmissão é interrompida exatamente no momento em que determinada memória estava desengavetada, ela não volta mais para seu lugar de origem — o hipocampo, apesar de muitas das lembranças negativas ficarem armazenadas na amígdala.

"No nível molecular, o processo de arquivar, acessar e armazenar novamente a memória, com pequenas mudanças, é simples", afirma a psicóloga israelense Daniela Schiller, professora da Mount Sinai School of Medicine, em Nova York, e uma das líderes mundiais nas pesquisas sobre formação e consolidação de memórias – seu estudo sobre a maleabilidade das lembranças, publicado em 2010 na respeitadíssima revista Nature, ajudou a mudar a visão tradicional que os próprios cientistas tinham da memória. "Um medicamento que induza a produção de certas proteínas, exatamente no momento em que o paciente está repassando determinada lembrança, faz com que ela desapareça." (Daniela, aliás, se mudou de Telavive para Nova York, a capital dos estudos de ponta sobre memória, porque acreditou no boato, infundado, de que o filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças era baseado em uma experiência real conduzida na cidade. Não era, mas ela acabou entrando em um pós-doutorado sobre memória graças ao erro.)

Fim dos traumas — Uma das proteínas responsáveis por este processo de reestabilização das conexões neurais é a já conhecida PKMzeta, descoberta pelo neurologista americano Todd Sacktor, que pesquisa o assunto dentro do Sunny Downstate Medical Center, no Brooklyn. E é no desenvolvimento de um medicamento que iniba temporariamente sua produção que os pesquisadores estão trabalhando. O desafio é chegar a uma pílula que funcione por pouco tempo e  com precisão cirúrgica: apenas nos circuitos neurais corretos.

Enquanto isso não é possível, existem formas de apagar a lembrança indesejada antes que ela se consolide. Como a memória é formada em duas etapas, já é possível neutralizar a primeira, a chamada memória de curto prazo. "Existem medicamentos que bloqueiam a transformação das memórias de curto prazo em definitivas. Mas não é possível selecionar a lembrança que se quer apagar", diz Sacktor. Ou seja: se a pessoa recebe o tratamento imediatamente após o incidente traumático, ela não vai se lembrar de absolutamente nada do que aconteceu nos minutos anteriores. O exército americano está especialmente interessado neste tipo de pesquisa.

Também já é possível modificar a lembrança, para que ela pareça menos terrível. Um estudo realizado na Universidade McGill, no Canadá, com dez pacientes de stress pós-traumático, alcançou resultados expressivos usando uma droga chamada propranolol, ministrada enquanto as pessoas contavam, em voz alta, os detalhes dos incidentes traumáticos pelos quais passaram.

A droga, também usada de forma experimental no tratamento de ansiedade, alterou os circuitos neuronais o suficiente para que as lembranças fossem rearmazenadas, agora sem a mesma carga de stress. Uma semana depois, os pacientes voltaram para a universidade e contaram novamente suas histórias. Já não apresentavam sintomas de stress, como o batimento cardíaco acelerado observado no grupo de controle, formado por nove pessoas. Este tipo de tratamento poderia ser usado para casos de ataques de pânico – ele poderia amenizar o pavor de ambientes fechados, ou de aranhas, por exemplo.
Implicações éticas — Mas um remédio capaz de apagar memórias pode ser perigoso. Ele poderia, em tese, ser usado contra a vontade do paciente. E pode descaracterizar nossa personalidade. "Nós somos o o resultado dos relatos que fazemos sobre nossa própria existência", afirma Todd Sacktor. O americano Henry Gustav Molaison é a prova disso. Em 1953, ele fez uma cirurgia para conter sua epilepsia: o neurocirurgião tirou metade de seu hipocampo e toda a amígdala. Quando acordou, Henry não era mais capaz de armazenar nenhuma memória e apenas se lembrava de seu passado antes da cirurgia. Até a morte aos 82 anos, em 2008, ele se olhava no espelho e não se reconhecia: tinha certeza de ter eternamente 27 anos, a mesma idade com que fez a cirurgia.

Daniela Schiller defende que este tipo de tratamento deverá ser usado com parcimônia extrema. "As memórias indesejadas também fazem parte do que somos, e muitas vezes nos impedem de repetir erros do passado", diz. "Mas, em casos de stress pós-traumático, o trauma é tão profundo que a lembrança não fica mais fraca com o tempo. E isso inviabiliza uma rotina normal e saudável. Para estas pessoas, o tratamento pode trazer um grande alívio". É o caso, por exemplo, de pessoas que sofreram ou presenciaram acidentes graves, veteranos de guerra ou vítimas de sequestros, estupros e tortura. Contudo, é bom lembrar que em Brilho Eterno apagar as memórias do prévio relacionamento não evita que Clementine e Joel voltem a ficar juntos e passem pelos mesmos problemas de antes.

Somos a nossa memória

No provocativo livro O Porco Filósofo (Relume Dumará), o britânico Julian Baggini cria uma pequena história de ficção científica para explicar como nada nos define mais do que a nossa memória. Em um mundo no qual a viagem para Marte é feita por teletransporte em questão de minutos, um cliente da companhia responsável por tais viagens processa a empresa sob a alegação de que foi morto nesse processo. A alegação, a princípio absurda, leva em conta que todo passageiro é recriado em Marte. Então, alega a "vítima", o que se tem é uma cópia, um clone do original.
Mas se esta cópia pensa igual à anterior, tem os mesmos planos e a mesma personalidade e, mais importante, as mesmas memórias, o cliente copiado realmente morreu? O livro não dá respostas fáceis, mas essa pequena história serve para ilustrar o quanto nossas memórias participam da construção do nosso eu.

Apesar de parecer extremamente desejável criarmos maneiras de apagar memórias traumáticas, ou até mesmo as embaraçosas e indesejáveis, filósofos e cientistas concordam que elas são parte constituinte e indispensáveis dos elementos que compõem o que somos. Além do perigo de que, uma vez que nos livremos das memórias que não mais queremos, voltemos a incorrer nos mesmos erros do passado, as experiências de vida ajudam a formar, junto com nossa consciência, grande parte do produto final que convencionou-se chamar de eu.
"A ideia que cada um de nós forma de si mesmo, a imagem que aos poucos construímos de quem somos física e mentalmente baseia-se na memória autobiográfica, em anos de experiência, e está sujeita a contínua remodelação", afirmou o neurocientista português António Damásio em seu livro O Mistério da Consciência (Cia. das Letras).

Outros animais, como chimpanzés e cães, também têm isso. Nada, porém, que se compare à riqueza de detalhes e abrangência como ela se manifesta nos seres humanos. "Essa diferença é amplificada pela linguagem, que é exclusivamente humana. A linguagem é também a capacidade de codificar as memórias não verbais numa forma verbal. Isso expande enormemente tudo o que o ser humano é capaz de memorizar", disse em entrevista a VEJA, em 2010.
Bruce Hood, diretor do Centro de Desenvolvimento Cognitivo da Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha, resumiu: "O eu é a pessoa com um passado, as memórias do dia anterior, os planos para o futuro." Ou seja, sem as memórias, o eu não existiria.

Fonte:Tiago Cordeiro - Revista Veja


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Mulheres que amamentam têm menor risco de Alzheimer, indica estudo


Mãe amamentando (Reuters)
Pesquisas já mostravam que amamentar diminuia a chance de a mulher desenvolver diversas doenças
Mães que amamentam seus filhos têm um risco menor de desenvolver Alzheimer, segundo um estudo recém-publicado pela Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha.
A pesquisa também indicou a possibilidade de haver uma ligação mais ampla entre os dois fatores, já que amamentar pode pode atrasar o declínio da condição cognitiva da mulher.
Estudos anteriores já mostravam que a amamentação reduzia o risco de a mãe desenvolver outras doenças, mas esse é o mais indicativo no que diz respeito a transtornos cognitivos.
O estudo mostra que alguns efeitos biológicos da amamentação podem ser os responsáveis pela redução do risco de se desenvolver a doença.
Os pesquisadores estabeleceram três comparações hipotéticas, entre mulheres que amamentaram e outras que não amamentaram ou amamentaram menos, e verificaram reduções potenciais de até 64% no risco de as primeiras desenvolverem Alzheimer em relação às segundas.
Eles advertem, porém, que não é possível quantificar com exatidão a redução potencial do risco de Alzheimer, por conta do grande número de variáveis envolvidas - como tempo de amamentação, histórico de saúde da mulher, número de gravidezes e casos de Alzheimer na família, entre outras.

Progesterona e insulina

Segundo uma das teorias levantadas pelos pesquisadores de Cambridge, amamentar priva o corpo do hormônio progesterona, para compensar os altos níveis de protesgerona produzido durante a gravidez.
A progesterona é conhecida por dessensibilizar os receptores de estrogênios no cérebro – e o estrogênio tem um papel importante na proteção do cérebro contra o Alzheimer.
Outra teoria se baseia no fato de que amamentar amplia a tolerância da mulher à glicose, restaurando sua tolerância à insulina após a gravidez, um período em que há uma redução natural da resistência à insulina.
E o Mal de Alzheimer é caracterizado justamente pela resistência à insulina no cerébro (e consequentemente à intolerância à glicose), tanto que o mal de Alzheimer algumas vezes é chamado de diabetes tipo 3.

Histórico de demência

Publicada no Journal of Alzheimer’s Disease, a pesquisa analisou 81 mulheres britânicas entre 70 e 100 anos, incluindo mulheres que sofriam ou não desse tipo de demência.
Apesar de os cientistas terem estudado o caso de um grupo pequeno de mulheres, eles garantiram que isso não interfere no resultado da pesquisa, dados os fortes indícios da correlação entre amamentar e os riscos de se desenvolver Alzheimer.
"Alzheimer é o transtorno cognitivo mais comum do mundo e já afeta 35,6 milhões de pessoas. No futuro, a doença deve atingir ainda mais países onde a renda é mais baixa"
Molly Fox, pesquisadora

Eles disseram, no entanto, que a conexão entre os dois fatores foi bem menos presente em mulheres que já tinham um histórico de demência na família.
Com base nos dados coletados com as mulheres estudadas, os pesquisadores formularam três casos hipotéticos para indicar o potencial de redução do risco de Alzheimer pela amamentação:
No primeiro caso, na comparação de duas mulheres idênticas, uma que tivesse amamentado por 12 meses teria um risco 22% menor da doença em relação à outra que amamentou por 4,4 meses.
No segundo, uma mulher que tenha amamentado por oito meses após uma gravidez teria um risco 23% menor do que uma mulher em condições idênticas, mas que tenha amamentado por seis meses após três gestações.
No terceiro caso, a redução verificada foi de 64% para uma mulher que tenha amamentado em relação a outra idêntica que não tenha amamentado.

'Doença devastadora'

A pesquisadora Molly Fox, que conduziu o estudo juntamente com os os professores Carlo Berzuini e Leslie Knapp, disse esperar que a pesquisa sirva para estimular outras sobre a relação entre o risco de doenças e o histórico reprodutivo de mulheres.
Fox espera ainda que as conclusões da pesquisa indiquem novos caminhos para lutar contra epidemia global de Alzheimer, especialmente em países em desenvolvimento.
"Alzheimer é o transtorno cognitivo mais comum do mundo e já afeta 35,6 milhões de pessoas. No futuro, a doença deve atingir ainda mais países onde a renda é mais baixa", disse. "Então é vital que sejam criadas estratégais de baixo custo e em grande escala para proteger as pessoas contra essa doença tão devastadora."
Além disso, o estudo abre novos possibilidades de se entender o que faz alguém suscetível a esse tipo de demência. Também pode servir como incentivo para mais mulheres amamentarem – algo que muitas pesquisas já comprovam que traz benefícios tanto para mãe quando para o bebê.

Fonte: BBC Brasil